quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Gato Preto


Na toca do gato preto as roupas mofam,
Os morangos vermelhos apodrecem
Feito queijos que se tornam roxos.

O ritmo da pegada contínua e previsível
Revela a armadilha fatal, porque precisa.
E o gato hoje é rato por tão ínfimo
E fraco que se transformou com as chuvas.

A neblina que envolve sua toca,
Torna ainda mais sombria sua vida
Medíocre porque rotineira
Pobre porque sem surpresas.

Não consegue mais pegar ratos,
Lento demais para pássaros
E medroso demais para peixes.
Como se alimenta o velho gato preto
Da toca sombria de porta estreita?

Vive do vento que refresca,
Da eterna esperança da tristeza ir embora.
Vive da esperança de chegar comida,
E de ouvir piar os pássaros na porta
E das unhas surgirem e rápidas pegá-lo.


E o que sonha o gato preto das esperanças?
Sonha com um segundo a mais
De vida, de luz e de um dia sem neblina.
Sonha com a barriga cheia,
De patas pra cima em um dia de sol.
Sonha com o piar dos pássaros,
O peixe pulando no balde
E o rato preso pelo rabo na armadilha.

Quem é o gato? Quem é o rato?
Herói de perna quebrada?
Vilão com sangue de carinho?
Quem tem os dentes afiados,
Mas agora quebrados?
Quem tem as patas ligeiras,
Agora ainda mais faceiras?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei seu post... kkk Desculpa,mas indo ao sentido literal... tenho um gato e o imaginei. hehe Brincadeiras à parte.. O que me diz do felino que jaz em todos nós? Faceiros quando queremos, na brincadeira com a caça,muitas vezes mata pelo prazer de matar! Mas um dia chega o cansaço e o felino se aposenta e vai viver uma vida sem os requintes da "malandragem"

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  3. Obrigado, Lana, pelo comentário. As vezes a sensação é de que o blog vaga apenas por mim mesmo. Bom saber que as pessoas leem os poemas e relacionam com as suas próprias experiências. Abraços,

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